“Segundo
o jacobino, a coisa pública é dele, e, a seus olhos, a coisa pública abrange
todas as coisas privadas, corpos e bens, almas e consciências. Assim, tudo lhe
pertence. Pelo simples fato de ser jacobino, ele se acha legitimamente tzar e
papa. Sendo o único esclarecido, o único patriota, ele é o único digno de
comandar, e seu orgulho imperioso julga que toda resistência é um crime... No entanto,
resta-lhe pôr em acordo seus próximos atos com suas palavras recentes. A
operação parece difícil, pois as palavras que ele pronunciou condenam de
antemão os atos que ele planeja. Ontem, ele exagerava os direitos dos
governados, ao ponto de suprimir os dos governantes; amanhã ele vai exagerar os
dos governantes até suprimir os dos governados.”
[...]
“A dar-lhe ouvidos, o povo é o único soberano, e ele vai tratar o povo como
escravo. A dar-lhe ouvidos, o governo não é mais que um criado de quarto, e ele
vai dar ao governo as prerrogativas de um sultão. Ontem mesmo ele denunciava o
menor exercício da autoridade pública como um crime, agora ele vai punir como
um crime a menor resistência à autoridade pública.” — Hippolyte Adolphe Taine
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“Os intelectuais revolucionários têm a missão histórica de inventar o vocabulário e os temas da próxima tirania.” (Nicolás Gómez Dávila) |
O
próximo presidente brasileiro, ao receber a faixa, herdará uma bomba relógio;
ao subir a rampa planaltina, entrará em um mausoléu de reputações.
Doze
anos de petismo balcanizaram o Brasil. Há cheiro de pólvora no ar em todas as
direções. Uma faísca basta para que tudo vá pelos ares: é a percepção de
“violência difusa”, sobre a qual tanto se sente e pouco se fala.
Os
agentes do partido governante disseminaram, de parte a parte, um desejo de
revolta paralelo ao de Lúcifer: ensinaram por onde andaram que a miséria de um
é a culpa de outro; que tudo o que o morro não possui lhe foi deliberadamente
negado pela malícia do asfalto; que, se índios nômades aculturados tomassem
para si as terras há cem anos cultivadas por milhares de famílias imigrantes,
haveria justiça; que a pobreza, em um país desde sempre conhecido pela
inviabilidade total de um corte étnico preciso, era questão de raça e de
preconceitos burgueses.
O PT
sepultou a concepção tradicional de educação, que buscava retirar o
indivíduo de seu meio para apresentá-lo à vastidão do pensamento universal. Ao
contrário, a pedagogia freireana encampada pelo partido, ao invés de elevar,
rebaixa. Torna o aluno incapaz sequer de suspeitar que um objeto possa ser
examinado por mais de uma dimensão, ou que a gôndola do supermercado onde brota
seu arroz deva sua existência a uma cadeia incomensurável de agentes — da
produção, sim, mas também do pensamento — aos quais debitar gratidão. A
educação petista produz, em série, imbecis imediatistas. Zumbis de uma cultura
de ódio e devassidão, prontos a tomar pela força tudo aquilo a que imaginam ter
direito. Não importa, para tanto, a quem precisem atropelar.
Por
sua vez, o modelo econômico desenvolvimentista dá claros sinais de esgotamento.
Precisará de ajustes dolorosos. A falência do sistema energético, com surreais
anúncios de reajuste tarifário para após as eleições, é prenúncio do que está
por vir; ponta do iceberg. Os investidores o sabem, e a Bolsa dá mostras. Quando a inflação consumir sozinha o mensalinho do
Bolsa Família, essa geração berçada sob a cultura da “música de
contestação”, do “rap reivindicação”, do “fazer valer os
seus direitos” não os buscará contra a autoridade política, mas contra a
sociedade, cujo representante arquetípico é quem quer que se encontre pela rua
em seu caminho. Haverá choro, ranger de dentes, fogo e balas insuficientes.
Não
se enganem, porém. A situação não se armou a si mesma. Teve seus arquitetos,
como teve seus executores. Desejaram e desejam ainda o desfecho ora quase
inevitável para esta que é a crônica de um desastre anunciado. Pensam que,
estilhaçando a nação, poderão reconstruí-la à sua imagem e semelhança, e que
todo preço a pagar por tão glorioso projeto seja pequeno. Passa a hora de
nomeá-los e chamá-los a responder por seus atos de lesa-pátria.
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“O mundo moderno não será castigado. É o castigo.” (Id.) |
Um comentário:
Prezado Leonardo
Tive acesso ao teu artigo, por sinal, excelente, via blog do Percival Puggina. Quando comecei a ler o excerto inicial, percebi logo o autor.
Conseguiste por em palavras exatamente o que sinto. A degeneração em todos os campos está de tal forma enraizada que o trabalho de resgate será, sem exagero, sobre-humano.
Abraço
Odilon Rocha - João Pessoa/PB
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