“Encontramo-nos
na iminência de uma Nova Era”. Não por determinismo dos astros, tampouco por
mutações anômalas de um certo inconsciente coletivo. O slogan, que
se repete ao menos desde 1968, tão carregado de boas vibrações, talvez convirja
para algo mais que “wishful thinking”. Talvez seja propaganda.
Tudo
o que é novo vende, e vende bem. A vida à moda antiga – “the old fashion way” –
tem sua oferta cada vez mais marginalizada. Ocorre que o novo, apenas porque novo,
não necessariamente é melhor ou superior. É plenamente possível que, na
transição entre uma era e outra, entre o furor do fluxo informático,
experiências valiosas percam-se para sempre. Quanto maior a ruptura entre as
gerações e menor o contato de uma para com a outra – quanto mais edipiana a
passagem – maiores as chances de que os filhos sejam, pura e simplesmente, mais
estúpidos que seus pais.
A
Grécia antiga conheceu três gerações de filósofos que, por si, foram
suficientes a lançar as bases de inteiras civilizações: Sócrates instruiu
Platão, que lecionou a Aristóteles. Aristóteles foi professor de Alexandre,
dito o Grande. Mas à geração alexandrina interessava menos a contemplação de
seus mestres, que a ação em si mesma. “Impérios são cemitérios de civilizações”:
a filosofia grega nunca viria a produzir nada comparável ao trio ancestral de notáveis.
O velho ciclo sequer era compreensível a seus sucessores.
Vivemos
ruptura análoga. Nossa sociedade prefere a novidade em todas as searas. Mas
planta nova tem raízes menos fundas; é abatida com facilidade. Na política,
como na cultura, a aparente exclusividade do novo pode implicar maiores
possibilidades de manipulação por gerontocratas matreiros nos bastidores.
Busca-se o novo para ressuscitar velhos erros, olvidando-se as lições da
sabedoria.
Sabe-se
hoje, por exemplo, que a disseminação dos movimentos de contracultura no
Ocidente não foi uma rebelião espontânea. Uma aliança entre políticos e teóricos,
emergente sobretudo após a segunda guerra mundial, arquitetou uma nova escala
de valores a ser imposta ao proletariado universal. Floresciam a chamada
“Escola de Frankfurt”, o gramscismo, a infiltração denunciada por Yuri Bezmenov
(v. “New lies for old”), atualmente hegemônica na educação estatal e nos meios
de comunicação (v. BERNARDIN, Pascal, “Machiavel pédagogue ou Le Ministère de
la réforme psychologique”).
O
desprezo ativo pela sabedoria do tempo pregresso, a arrogância dos neotolerantes
ao, de seus pedestais impúberes, julgarem completos idiotas seus pais e avós, a
pregação para “não confiar em quem tenha mais de trinta anos”: tudo se coaduna
para romper os laços com os valores perenes (a família, a religião, a
filosofia, as associações livres) e, atomizando o indivíduo, sujeitá-lo ao poder
ilimitado do Estado.
Nesta
época de fim de ano, atentemos a uma manifestação daquele mesmo ímpeto:
empresas tidas como inovadoras e multiculturais, cujas páginas na rede mundial
celebram solstícios, equinócios, festas cívicas e religiosas mesmo das terras mais longínquas e isoladas,
recusam-se terminantemente a desejar a seus clientes um mero "Merry Christmas", “Feliz Natal”. A
expressão vem substituída por “Happy Holidays”, boas festas. Inocentemente,
somos tentados a imitá-las por economia de palavras. Não nos demos ao luxo da inocência:
eles são astutos.
Muitos
governos na América do Norte e Europa admitem-no expressamente: desejam banir o
Natal de seus calendários. A festa é cristã ("Christmas begins with Christ"), e pode-se tolerar tudo – menos o
cristianismo de nossos avós. Esse, não. Esse é odioso. A filosofia cristã, com
seus Agostinhos, Aquinos, Pascais e Leibniz, prega a existência de verdades
absolutas, eternas e universais. Afirma que há o certo e o errado, o bom, o mau
e o Mal. Se tais noções forem corretas, o poder do Estado não pode ser
ilimitado: a moral o confinaria. Para a Nova Era que se anuncia, tal noção é
inaceitável.
Suma
incoerência: com o fim do cristianismo, caridade e tolerância – virtudes
cristãs – tornam-se ininteligíveis. Não há fraternidade sem paternidade. Sem a noção de uma verdade absoluta e eterna,
César e Leviatã tornam-se deuses outra vez. O absoluto imanentiza-se, para que
o homem escravize o homem.
Assim,
basta um pequeno gesto a sabotar o esquecimento das eras postas; uma disposição
de desobediência cívica contra os potentados da Nova Era, mas obediente às Leis
Eternas, para mostrarmos que o esquecimento do passado não é um fado
inevitável: desejemos uns aos outros, com todas as letras, um feliz e santo
Natal. E um ano novo no qual não se percam as lições de dois milênios e meio da
sabedoria transmitida gratuitamente. Uma vez perdida, apenas novos séculos de
esforço homérico a restaurariam.
______________________________
Leitura relacionada: "Por que celebrar o Natal?", por Olavo de Carvalho.
Um comentário:
Boa tarde! Esse post é de lavar a alma.
Veja a selvageria acontecendo nos EUA:
Outrage as Army bans word ‘Christmas’: ‘Treats pornography better than it does Christmas’
http://www.bizpacreview.com/2013/12/24/outrage-as-army-bans-word-christmas-treats-pornography-better-than-it-does-christmas-90241
Tenha um Feliz Natal!
Postar um comentário