Não houvesse a fé, que inconcebível seria a instituição Igreja!
Quão extraordinária é a continuidade do Corpo do Doce Cristo em Terra, que
surpreende os juristas seculares quando, obedecendo ao Legislador do Eterno,
busca precedentes na escala dos séculos e milênios!
Assim foi quando o exímio teólogo Joseph Aloisius
Ratzinger, seguindo precedente deixado por São Celestino V no Ano de Nosso
Senhor de 1294, decidiu, em diálogo de sua alma com Deus, abdicar a função de
Sumo Pontífice da Igreja Católica e pastor de um bilhão de almas por
todo o mundo, dando seqüência à sucessão apostólica e passando a servir à Igreja em retiro e oração.
Em verdade, dentro de poucos dias reunir-se-ão em
conclave brilhantes e santos homens – pecadores, sim, porquanto homens são, mas
santificados pela investidura nos séculos de uma Tradição cuja continuidade,
diante de tais e tantos homens, apenas o Espírito Santo justifica – e, tudo
leva a crer, escolherão a suceder nosso amado Bento XVI aquele que Deus julgar
necessário ao Seu tempo. É dizer, um Papa não serve ao tempo dos homens, senão
para dar-nos o vislumbre das verdades inegociáveis do tempo de Deus, em uma
escala que tão somente a Igreja una e santa pode aferir.
Parafraseando G.K. Chesterton, o católico é um homem
dotado de dois mil anos de vivência:
"Isto significa, se o presenciarmos ainda mais, que uma pessoa, ao se converter, cresce e se eleva ao pleno humanismo. Julga as coisas do modo como elas comovem a humanidade, e a todos os países e em todos os tempos; e não somente segundo as últimas notícias dos diários. Se um homem moderno diz que sua religião é o espiritualismo ou o socialismo, esse homem vive integralmente no mundo mais moderno possível, quer dizer, no mundo dos partidos." (CHESTERTON, G.K. Por que me converti ao catolicismo.)Bem entendido, seja quem for o escolhido sob o precedente de "Tu es Petrus", instituído por ninguém menos que o Verbo primordial encarnado, será ele um conservador de verdades tão antigas quanto o mundo (e, pois, portador de um amor tão profundo quanto as fundações da Terra) diante de um tempo titubeante e ávido por livrar-se de suas raízes. É que as raízes são tomadas por amarras, sem que ninguém aponte ao moderno, disto, que irá tombar.
Dadas as condições, mais do que nunca é verdadeira a assertiva de Chesterton: "se o Papa não existisse, seria preciso inventá-lo."
Os tempos de sede vacante, o interregno episcopal da Sé
de Roma, têm atiçado as fantasias de todos os poderes sociais que sofrem a
concorrência da Igreja. É compreensível, pois a autoridade moral inquebrantável
do catolicismo vem sendo a pedra no sapato de césares e brancaleones desde os
tempos bíblicos. Toda uma escola filosófica – o marxismo frankfurtiano – desenvolveu-se com o fim declarado de varrer a influência cristã da cultura ocidental para, só então, promover a revolução política. São os mais interessados em "reformar o catolicismo" desde dentro. Para o seu próprio bem...
Em termos sociológicos, é possível vincular a
legitimidade da Igreja inteiramente à tradição (do latim traditio, entrega – a herança
que se transmite entre as gerações de fiéis). Embora a proporção nominal de
católicos na população dos países desenvolvidos tenha sucumbido, o prestígio do
magistério bimilenar do catolicismo influencia, graças à sua coerência, mesmo
aqueles que não se querem vinculados à religião institucional. Em época tão
interessada pela popularidade instantânea, é curioso observar como, sempre que
a Igreja insinuou aberturas hermenêuticas sobre seus dogmas e princípios, o
número e a assiduidade de seus fiéis foram reduzidos. “A Igreja, ao escancarar suas
portas, quis facilitar a entrada aos de fora, sem pensar que mais facilitava a
saída aos de dentro”, atesta o espirituoso Nicolás Gómez Dávila. Ao considerar a aprovação das massas, é bom sopesar que o gênero
próximo à Igreja é o Deus vivo, e o Deus vivo, para persistir na Verdade, foi crucificado pelos homens.
Sim, a Verdade... Quid est veritas? – interrogou Pilatos e lavou suas mãos. Diz-se que é relativa, como se diz de tudo o mais, e tudo parece efêmero em nosso tempo. O fluxo de informações instantâneas
mantém a mente sempre ocupada, incapacitada para a reflexão e organização do conhecimento. As leis do Estado são inescrutáveis, quer por seu volume, quer por
sua inconstância. Heróis surgem e esvaecem em questão de horas, e pelas causas
mais banais. Mesmo a vida é tolhida a qualquer momento, em qualquer esquina,
por bem menos que trinta moedas de prata. Será difícil perceber, pois, que o
diferencial da Igreja – sua diferença específica para tudo o mais que nos é
ofertado – está justamente em sua permanência?

Se a Igreja abrisse
mão de sua fidelidade à democracia dos séculos para agradar a esta década,
estaria arruinada. Diluir-se-ia no grande caldo das vaidades que transitam e
somem antes da segunda alvorada. Não, nenhum Papa teria autoridade para tanto. A Igreja de nosso tempo, daqueles que hoje transitam no mundo, é fiel depositária de tesouros da alma humana sobre os quais impende o dever de legá-los às gerações futuras. Quer o mundo goste, quer não. Os césares nunca gostaram. Não obstante, a Igreja está aí, imperando sobre a Cidade Eterna de Roma. Os césares, não.
Nesta hora de incertezas, recordemos a exortação das Escrituras tão cara a nossos Pontífices: nolite timere! Não tenhais medo! Confiemos no Espírito – o Santo, e o dos séculos. E que viva a Igreja Católica! Vivamo-la, em comunhão com Pedro, gozando a divina promessa da imortalidade de tudo o que foi, é e será sempre bom, belo e justo. A fé que não se curvou a imperadores, bárbaros, reis e saqueadores não será ludibriada pelo veneno das mídias ou pela incompreensão das vítimas do sistema [des]educacional da alta modernidade. Quando a Alta Modernidade findar, a Igreja seguirá seu caminho rumo à Cidade de Deus. Em oitocentos anos, o legado intelectual e espiritual de Bento XVI será tão válido quanto o é, hoje, o precedente de Celestino V, mesmo que ninguém, então, recorde os governantes das potências deste tempo e os âncoras de blogs e jornais. Eles constroem sobre areia. Tu és pedra...
Está escrito: as portas do inferno não prevalecerão!
Nesta hora de incertezas, recordemos a exortação das Escrituras tão cara a nossos Pontífices: nolite timere! Não tenhais medo! Confiemos no Espírito – o Santo, e o dos séculos. E que viva a Igreja Católica! Vivamo-la, em comunhão com Pedro, gozando a divina promessa da imortalidade de tudo o que foi, é e será sempre bom, belo e justo. A fé que não se curvou a imperadores, bárbaros, reis e saqueadores não será ludibriada pelo veneno das mídias ou pela incompreensão das vítimas do sistema [des]educacional da alta modernidade. Quando a Alta Modernidade findar, a Igreja seguirá seu caminho rumo à Cidade de Deus. Em oitocentos anos, o legado intelectual e espiritual de Bento XVI será tão válido quanto o é, hoje, o precedente de Celestino V, mesmo que ninguém, então, recorde os governantes das potências deste tempo e os âncoras de blogs e jornais. Eles constroem sobre areia. Tu és pedra...
Está escrito: as portas do inferno não prevalecerão!