
De lá para cá, tudo mudou. A esquerda dominou a cena cultural. Entre Gramsci e os pensadores da chamada Escola de Frankfurt, a tecnologia para a desconstrução da cultura judaico-cristã no Ocidente aprimorou-se e o front foi objeto de um bombardeio sem par. Desde o advento de figuras tais quais Michael Moore, Hollywood assume abertamente sua posição como vanguarda da reengenharia de mentalidades. Os filmes do último ano mostram-no com clareza.
É o caso de Lincoln, cinebiografia dirigida por Steven Spielberg, cuja
acuidade, como se vê aqui, abre espaço para
severas ressalvas.
Consola ter a companhia do Instituto Ludwig von Mises Brasil na árdua
tarefa de desmistificar ao público brasileiro, sempre tão permeável à propaganda audiovisual, alguns dos ídolos de barro criados pelos
colaboracionistas de plantão.
Há que considerar o momento do lançamento do filme, convertido este em
uma fábula acerca de um "homem forte" à frente do Poder Executivo
destinado a forçar, sobre um parlamento dividido e reticente, uma reforma
legislativa radical. O Lincoln imaginário de Spielberg, está claro, é um Obama
de casaca.
Uma pena o texto, embora as mencionando, não se aprofundar nas exposições de Thomas DiLorenzo e Tom Woods a respeito do que, segundo eles, foi a verdadeira causa motriz de Lincoln em sua guerra total: aniquilação da autonomia federativa e concentração do poder (leia-se receitas) na capital federal. Nesse aspecto, com efeito, o presidente obteve sucessos épicos que se fazem sentir ainda em nossos dias.
A entrega dos Academy Awards deu-se na noite passada e, caracterizando a submissão de Hollywood à agenda corrente de Washington, o envelope com a premiação de Melhor Filme do ano foi revelado diretamente da Casa Branca, por uma Michelle Obama em costumes e circunstâncias dignas de Cleópatra. Que momento glorioso para o regime seria, então, ter Lincoln como o grande vencedor da noite!
Contudo, a película agraciada pelo Oscar foi Argo. Nem por
isso a vitória do grupo governante foi menor. A produção, focada na crise
diplomática de 1979 pela invasão da embaixada americana em Teerã, é recheada de
distorções anti-ocidentais para mitigar o papelão do então governo esquerdista
de Carter, justificando o extremismo islâmico da Revolução Iraniana segundo a
tese do orientalismo ("o Oriente é uma invenção ocidental"). O
evento, historicamente relacionado à incompetência do governo democrata, foi,
num passe de mágica, jogado na conta de uma suposta política externa
neoconservadora. O inaceitável em tal tese (sem falar na acurácia histórica)
é posicionar os povos do oriente como moralmente irresponsáveis, o que, ipso
facto, faz com que sejam realmente merecedores de tutela estrangeira.
A indústria cultural americana está entusiasmadíssima para fazer-se
dependente do Estado. A hagiologia sobre Lincoln e a revisão pró-democrata da
história recente são, assim, marcas indeléveis dos tempos em que vivemos.
No páreo dos nomeados à estatueta esteve, ainda, Les Misérables. O musical traz o
enredo do monumental romance de Victor Hugo, que trata como heróis os
seguidores do general francês Lamarque, executor do massacre dos camponeses católicos e monarquistas da Vendéia na sucessão da revolução francesa. É uma
ode à mentalidade revolucionária (“Vermelho – o sangue de homens furiosos!” é
mesmo de um lirismo exemplar...) que, dado o momentum, bem poderia
ser lida como elegia para o obâmico Occupy Wallstreet.


Também disputavam o título A Hora mais Escura (Zero Dark Thirty), que espetaculariza a captura de Obama pelo commander-in-chief Osama (ou
vice-versa); Amour, um tocante drama humano, mas que finda em uma aparente
defesa da eutanásia, e A Vida de Pi, visualmente belo (pelo que recorda a notável propaganda ambientalista de Avatar), imbuindo uma salada
multiculturalista semelhante à velha "metáfora do elefante", tudo a
fim de equiparar e liquefazer as religiões (salvai-nos, Monsenhor Sanahuja!). O
Oscar 2013 foi, pois, de cabo a rabo, a consagração do programa cultural da esquerda
americana.
Ao menos a noite legou-nos uma aprazível performance de Skyfall,
canção tema do filme homônimo de um outrora anticomunista agente britânico, por
uma Adele sempre surpreendente. Como o James Bond de Skyfall, o Ocidente apresenta um
quadro psicológico pleno de crescentes transtornos, mas ainda guarda algo de
seu encanto único. O mesmo vale para o Oscar, momento áureo da mais
jovem de suas artes.
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