sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Boas festas, cara-pálida!


“Encontramo-nos na iminência de uma Nova Era”. Não por determinismo dos astros, tampouco por mutações anômalas de um certo inconsciente coletivo. O slogan, que se repete ao menos desde 1968, tão carregado de boas vibrações, talvez convirja para algo mais que “wishful thinking”. Talvez seja propaganda.

Tudo o que é novo vende, e vende bem. A vida à moda antiga – “the old fashion way” – tem sua oferta cada vez mais marginalizada. Ocorre que o novo, apenas porque novo, não necessariamente é melhor ou superior. É plenamente possível que, na transição entre uma era e outra, entre o furor do fluxo informático, experiências valiosas percam-se para sempre. Quanto maior a ruptura entre as gerações e menor o contato de uma para com a outra – quanto mais edipiana a passagem – maiores as chances de que os filhos sejam, pura e simplesmente, mais estúpidos que seus pais.

A Grécia antiga conheceu três gerações de filósofos que, por si, foram suficientes a lançar as bases de inteiras civilizações: Sócrates instruiu Platão, que lecionou a Aristóteles. Aristóteles foi professor de Alexandre, dito o Grande. Mas à geração alexandrina interessava menos a contemplação de seus mestres, que a ação em si mesma. “Impérios são cemitérios de civilizações”: a filosofia grega nunca viria a produzir nada comparável ao trio ancestral de notáveis. O velho ciclo sequer era compreensível a seus sucessores.

Vivemos ruptura análoga. Nossa sociedade prefere a novidade em todas as searas. Mas planta nova tem raízes menos fundas; é abatida com facilidade. Na política, como na cultura, a aparente exclusividade do novo pode implicar maiores possibilidades de manipulação por gerontocratas matreiros nos bastidores. Busca-se o novo para ressuscitar velhos erros, olvidando-se as lições da sabedoria.

Sabe-se hoje, por exemplo, que a disseminação dos movimentos de contracultura no Ocidente não foi uma rebelião espontânea. Uma aliança entre políticos e teóricos, emergente sobretudo após a segunda guerra mundial, arquitetou uma nova escala de valores a ser imposta ao proletariado universal. Floresciam a chamada “Escola de Frankfurt”, o gramscismo, a infiltração denunciada por Yuri Bezmenov (v. “New lies for old”), atualmente hegemônica na educação estatal e nos meios de comunicação (v. BERNARDIN, Pascal, “Machiavel pédagogue ou Le Ministère de la réforme psychologique”).

O desprezo ativo pela sabedoria do tempo pregresso, a arrogância dos neotolerantes ao, de seus pedestais impúberes, julgarem completos idiotas seus pais e avós, a pregação para “não confiar em quem tenha mais de trinta anos”: tudo se coaduna para romper os laços com os valores perenes (a família, a religião, a filosofia, as associações livres) e, atomizando o indivíduo, sujeitá-lo ao poder ilimitado do Estado.

Nesta época de fim de ano, atentemos a uma manifestação daquele mesmo ímpeto: empresas tidas como inovadoras e multiculturais, cujas páginas na rede mundial celebram solstícios, equinócios, festas cívicas e religiosas mesmo das terras mais longínquas e isoladas, recusam-se terminantemente a desejar a seus clientes um mero "Merry Christmas", “Feliz Natal”. A expressão vem substituída por “Happy Holidays”, boas festas. Inocentemente, somos tentados a imitá-las por economia de palavras. Não nos demos ao luxo da inocência: eles são astutos.

Muitos governos na América do Norte e Europa admitem-no expressamente: desejam banir o Natal de seus calendários. A festa é cristã ("Christmas begins with Christ"), e pode-se tolerar tudo – menos o cristianismo de nossos avós. Esse, não. Esse é odioso. A filosofia cristã, com seus Agostinhos, Aquinos, Pascais e Leibniz, prega a existência de verdades absolutas, eternas e universais. Afirma que há o certo e o errado, o bom, o mau e o Mal. Se tais noções forem corretas, o poder do Estado não pode ser ilimitado: a moral o confinaria. Para a Nova Era que se anuncia, tal noção é inaceitável.

Suma incoerência: com o fim do cristianismo, caridade e tolerância – virtudes cristãs – tornam-se ininteligíveis. Não há fraternidade sem paternidade. Sem a noção de uma verdade absoluta e eterna, César e Leviatã tornam-se deuses outra vez. O absoluto imanentiza-se, para que o homem escravize o homem.

Assim, basta um pequeno gesto a sabotar o esquecimento das eras postas; uma disposição de desobediência cívica contra os potentados da Nova Era, mas obediente às Leis Eternas, para mostrarmos que o esquecimento do passado não é um fado inevitável: desejemos uns aos outros, com todas as letras, um feliz e santo Natal. E um ano novo no qual não se percam as lições de dois milênios e meio da sabedoria transmitida gratuitamente. Uma vez perdida, apenas novos séculos de esforço homérico a restaurariam.  

Dizia Gómez Dávila que “civilização é o que logram salvar os velhos da investida dos idealistas jovens”. Para nosso infortúnio, os velhos de hoje são ainda os tolos de 1968. Nada esqueceram; nada aprenderam. Toca-nos ir além, em busca do tempo perdido. A começar pela linguagem: salvem o Natal! Não nos deixemos barbarizar. Não somos pré-colombianos, não praticamos o sacrifício humano e a gladiatura. Festas, também aqueles as tinham. O Natal é coisa nossa, nosso Princípio. Ouçamos o alerta dos velhos, de Mario Ferreira dos Santos, de José Ortega y Gasset. "Boas festas, cara-pálida"? Tomam-nos por selvagens? Obrigado, mas não. Feliz Natal!

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Leitura relacionada: "Por que celebrar o Natal?", por Olavo de Carvalho. 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Mussolini redivivo: a estatização dos direitos políticos avança no STF


Semanas atrás, o pleno do Supremo Tribunal Federal declarava inconstitucional o artigo 5º da Lei 12.034/2009, que assegurava aos eleitores o direito a conferir, in loco, se o voto por si digitado na urna eletrônica efetivamente será contabilizado ao candidato escolhido, e não a um outro qualquer. Cidadania é isto: a possibilidade de autenticar o exercício do poder em ato. É o exato oposto à submissão geral perante uma elite tecnocrata, um Mágico de Oz. A intervenção desmesurada da Corte compele os brasileiros a confiar cegamente na retidão de um sistema exclusivamente digital de cômputo de votos – sistema esse rapidamente acolhido pelas prototiranias da vizinhança continental, enquanto rejeitado por todas as democracias sólidas da Europa e da América do Norte, precipuamente por sua imunidade intrínseca a qualquer forma de auditoria externa de seus resultados. A mulher de César não parece honesta.

Pois agora, nem bem passado um mês, já se encomenda a próxima incursão inescusável dos excelsos magistrados constitucionais por sobre as regras eleitorais.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

A Cidade do Homem: Doutrina Católica e contingência social

I) A VERDADE QUE PERDURA

A Igreja tem causa no Absoluto. O Absoluto é a Verdade primeira e última, razão e fim do homem e de tudo o que há sob os céus. Mas a atividade humana no mundo expressa-se sob formas as mais diversas e, se é certo que, visando cada qual ao Bem, comunicam-se com a Verdade e a Ela conduzem, essas facetas não se confundem com o Bem ele mesmo. Deus quis que as coisas do mundo existissem. Elas existem porque Ele as sustenta, mas elas não são Ele. O catolicismo não é panteísta.

Nem cesaropapista. A distinção entre o poder destinado às coisas do mundo – os bens contingentes – e às coisas de Deus – a Verdade universal – acompanha o pensamento católico, conforme proclamou o Verbo Encarnado. Uma diferença tremenda, pois Nosso Senhor manifestou-se em um tempo no qual autoridades temporal e religiosa [con]fundiam-se ao ponto da literal divinização dos governantes, césares e faraós.
  
Mas Cristo refutou a idolatria. Não separou moral e vida pública – isso não quis Cristo, mas Maquiavel: um homem bicéfalo – porém não legislou códigos civis, como faria o Profeta islâmico. Ocorre que a Igreja por Ele deixada convive com o mundo, e é parte de sua missão exortá-lo a conformar-se ao Reino celeste, para a salvação das almas. Exortá-lo, não mutilá-lo, como Procusto fazia aos viajantes que acolhia.  

Em verdade, este mundo não se salva. Salvam-se os homens que o compõem com o coração voltado às coisas do Reino, Mundo Novo, Nova Jerusalém. Enquanto houver mundo, o mundo será mundo, não Céu. Cada católico e a Igreja são céu que vive em Terra; porém a Terra não se converte em Céu com a vontade humana.

A vontade humana. Tolkien deliciava-se ao falar do homem como co-criador, aquele que cria porque, imagem e semelhança de Deus, anseia imitar o ato criativo mais sublime. De fato, a criatividade humana só é limitada pela potestade divina, resultando disso os mais incríveis, fascinantes e peculiares arranjos sociais.

Seria impossível a um só homem prever todas as verdades particulares hoje em ato sobre a Terra: apenas a mente divina pode abarcá-las. A quantidade de informação que geram ultrapassa o raciocínio individual. Pela mesma razão, as múltiplas facetas da existência humana no mundo são irredutíveis a uma ciência una – a ciência definitiva, sonhada pelo positivismo e pelo marxismo. O co-criador, bebendo sempre da fonte inesgotável da mente divina, não cansa de surpreender. A cada dia se entoam cânticos novos, ao deleite do Senhor.

Se não há teoria capaz de reduzir todas as verdades particulares à Verdade Universal, é preciso reconciliá-las uma a uma. Cada arte possui sua função. Idealizar inteiros sistemas virtuosos em si mesmos é ignorar que o espaço de harmonização entre uma arte e outra – o espaço onde a virtude se manifesta – não é o objeto, o modelo, o organograma, mas o homem enquanto tal, em sua realidade inquebrantável de pessoa a refletir a imagem divina.

II) VERDADES COMUNICADAS

Isto posto, sabendo que eventualmente contrariarei nisto muitos amigos que se vêm manifestando em apoio aos meus comentários mais recentes noutros sentidos, peço vênia para apontar dois erros sistemáticos que entendo haver em certo modo de defender a Doutrina Social da Igreja:

a) Quando a DSI veio proposta em sua forma atual, em fins de século XIX, seus teóricos nutriam a expectativa de uma sociedade ou imbuída de valores cristãos, ou apta a vê-los restaurados como pensamento reinante. É dizer, para o sucesso da DSI, é pressuposto que o povo por ela envolto seja um povo catequizado, verdadeiramente católico.

A DSI é pensada a fim de promover uma sociedade orgânica/organizada/dotada de organismos impregnados de missionarismo cristão – sociedade natural ordenada ao sobrenatural. E isso é belíssimo. Quando essa sociedade conta com indivíduos aptos a ocupar e coordenar tais espaços para os fins católicos pelos quais foram propostos. Nós acaso os possuímos? Se a resposta é negativa, uma organização social baseada na DSI cria puros e simples vazios de poder a serem preenchidos por quem estiver disponível. E a mão de obra disponível é maciçamente anticristã.

Ponderava Russell Kirk: para haver ordem na sociedade, é preciso, primeiro, que haja ordem em cada alma.

Não adianta promover o associativismo onde não há com quem se associar. É inútil propagar a distribuição quando os beneficiários foram educados a serem eles próprios, a seu modo, concentradores de benesses. De nada vale criar sindicatos a pensar nas gloriosas corporações de ofício medievais, quando a cultura do sindicalismo contemporâneo resume-se não à excelência e dignidade daqueles tempos, mas à mediocridade compulsória e à locupletação individual.

Assim que, antes de catequizarmos instituições, é necessário formar os homens que as irão compor. E isso não será concluído em nosso tempo de vida. As instituições serão conseqüência, por exclusiva graça divina e mérito das obras de muitas formiguinhas na fé.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sub umbra alarum Tuarum: os “medievais” e as verdades perenes

“O ideal cristão não foi testado e reprovado. Ele foi considerado difícil e deixou de ser experimentado.”  G.K. Chesterton

As pessoas vivem a repetir bobagens monumentais acerca da “Idade Média”, assimilando versões hollywoodianas sobre seus “mil anos de trevas”. Mas a verdade é que todos pagam fortunas para ir à Europa e visitar os resquícios graciosíssimos daquele mesmíssimo período, contam os contos de encanto inspirados na sociedade feudal, donzelas sonham encontrar seus príncipes e rapazes adorariam galopar sob o ideal da cavalaria. Aliás, este não é privilégio infantil, pois a adesão a ordens maçônicas nas altas esferas da sociedade preenche, justamente, o vazio de sentido transcendente deixado pela retração dos corpos sociais medievais.
Enquanto a Idade Média, mesmo tão vitimada pela propaganda (sua própria designação a posteriori é pejorativa), ainda hoje alimenta uma indústria internacional riquíssima e povoa o imaginário ocidental com arquétipos de virtude, a Igreja Católica, mãe daquela época, deixa-se assustar por bichos-papões e insiste em renegar sua filha para adotar a modernidade. Vejam, por exemplo, a arquitetura dos templos católicos — para ficarmos em um campo imediatamente acessível aos sentidos. A cidadezinha de Canela, no sul do Brasil, não viveu a Idade Média, mas seus colonizadores europeus construíram-lhe uma belíssima catedral em estilo gótico, tal como se fazia. Turistas de todo o país acorrem às suas praças para deleitar-se com a visão.

A mundialmente famosa cidade do Rio de Janeiro, entretanto, tem por catedral um imenso balde emborcado. Jamais vi quem dissesse querer tantíssimo viajar ao Rio para conhecer seu templo capital, e vocês?

Um dos edifícios valoriza conceitos apreendidos pela contínua elucubração das artes: seu mero vislumbre comunica a inspiração celeste, conduz gentilmente o olhar para o alto, ultrapassa horizontes de consciência; no outro, pretendeu-se revolucionar. A tradição e a dignidade que lhe seriam propícias foram desprezadas, e tudo foi reduzido ao princípio mais rudimentar da engenharia: uma base volumosa a sustentar uma cobertura exígua. Ponto. Que se experimentasse juntar com a mão um punhado de areia e, em seguida, despejá-lo sobre a terra: ter-se-ia projeto bastante semelhante. Formigas poderiam construí-lo. Por resultado, o exterior do prédio é uma incógnita — não transmite, per se, valor algum. Quando se ingressa no ambiente, em lugar daquela impressão de gentil elevação da alma a Deus, o visitante sente-se esmagado pela magnitude do nada. O espaço aberto é tão nulo em significado que bem poderia ser um ginásio de esportes. Não faria diferença.

Onde ficou a mensagem?

A inspiração medieval mais ou menos fidedigna nunca cessou de povoar a literatura europeia. De Cervantes a Tolkien, passando por Sir Walter Scott, Andersen, irmãos Grimm e C.S. Lewis; desde o gênio shakespeariano, atingindo as deturpações eruditas de Umberto Eco ou o proveito popular de George R. R. Martin, o período guarda um encanto intrínseco bastante notório, pois foi a síntese material e a fonte mitopoética de quase todo o arranjo humano subsequente.

Enquanto alguns indivíduos brilhantes encontram no legado medieval um nicho de mercado tão vasto quanto a cristandade de outrora, aquela entidade que bem se poderia dizer a mentora (ou inventora?) do período faz todo o possível para escondê-lo sob o tapete. Com relação ao legado medieval, setores da Igreja comportam-se como aquela senhora de idade que, ocultando em seu porão relíquias inigualáveis, capazes de maravilhar a qualquer um, prefere redecorar a casa ao gosto do vizinho rico, excêntrico e de poucos amigos, esperando que este a freqüente com mais constância ou, quando muito, deixe de pisar-lhe as flores do jardim.

Ninguém está a advogar que a Igreja se engesse em um determinado tempo, tornando-se uma espécie de parque temático. Não! Trata-se do exato oposto. Não queremos uma Igreja artificialmente estagnada no medievo, no renascentista ou no barroco, tanto quanto não a queremos sitiada pelas viseiras estreitas da pós-modernidade. Galgamos, um dia, estar “sobre os ombros de gigantes”. Teremos descido e esquecido o que aprendemos?

A Igreja Católica, por ser universal, é a presença, no tempo, da totalidade dos tempos. Nossa humilde ambição é não deixá-la o olvidar, face ao constante assédio do presente sobre o patrimônio do eterno. A contemporaneidade produz tamanho ruído! Há que prestar atenção para escutar, lá ao longe, o badalar do sino da manhã.

Certos patamares de perfeição foram atingidos ao longo da história humana. São vias de acesso ao sublime, de caráter atemporal, como supratemporal é, em si mesma, a natureza divina. Quando a Igreja recebeu, de Cristo-Deus Encarnado, a missão de guardar as chaves para o Reino dos Céus, estava expresso que o Corpo Místico de Cristo seria, no mundo das formas transitórias, uma âncora para o terreno das verdades imutáveis, e que deveria sempre realizar ao reino de cá a possibilidade de acesso ao de lá: ser imagem e semelhança da completude e da estabilidade divinas, um faro da luz primordial em um mundo incerto e tempestuoso.

Renunciar às conquistas da civilização católica apenas porque certas verdades tornaram-se velhas e inconvenientes — como velho é o fato de que dois e dois são quatro — é demonstrar que se perdeu a compreensão da missão eclesiológica adquirida no momento fundacional. É esquecer que o mundo foi e será sempre hostil ao que o ultrapassa, mas que a Igreja nasce com o fim precípuo de ir além das contingências de sua época e lugar.

Assim, se identificamos certas realidades humanas para com uma dada antiguidade histórica, tanto melhor que a recuperemos! É sinal de que estiveram bem representadas na memória do homem. Sinal, sobretudo, de que já nos foram auferíveis. Se o foram um dia, é possível que o sejam sempre. Resta considerar se — e por quê — não mais no-lo são agora. Terão os símbolos da ordem cristã realmente perdido sua significância, de tal modo que devamos buscar novas formas, abandonar nossos traços distintivos em favor de métodos que nos são estranhos, vindos de nossos irmãos mais novos? Ou fomos nós, os católicos, quem voluntariamente abrimos mão de nossa identidade para não ferir uma sensibilidade moderna não mais que imaginária – a mesma sensibilidade que forjou o mito tão contraditório da “Idade das Trevas”, enquanto inventava sozinha a ideologia, o genocídio, a bomba?

Parece-me que o mundo contemporâneo está sedento pelo sublime, no exato modelo em que a Igreja lho ofertava outrora, e que apenas ela, a Igreja, tem a oportunidade e o dever de apresentar ainda agora. Mas alguns, mesmo habitando à sombra benfazeja da Cidadela do Eterno, negam-se a oferecer o que dela se espera. Ao contrário, pretendem que ela se insira no “mercado das ideias” com as mesmas práticas e propostas que se encontram em qualquer bar de esquina, entre mil e um concorrentes. Não, não e não! A humanidade precisa da Igreja Católica, eis que o homem precisa de Deus, e Deus é o sumo bem, e o sumo bem é universal e absoluto. Como nos dizia a presença da Igreja de sempre. A Igreja do eterno que se desvelou no contingente. A Igreja nascida para refletir, neste mundo, o outro; não uma Igreja que exacerbe as modas e os usos que a sociedade encontra fartos por si mesma.

Comover-se pelo vigor perpétuo do bom, do belo e do justo, uma vez encontrados — isto é ser medieval? Que sejamos medievais. Talvez a pejorativa “idade do meio” — “idade da luz”, no dizer de Régine Pernoud — tenha sido, entre as eras, a mais próxima possível do perene. Um reflexo imperfeito da hierarquia celeste. Uma sombra deixada pelas asas dos anjos, quando o homem comum os tinha certos como a sucessão dos dias. 

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*“Custodi me ut pupillam oculi, sub umbra alarum Tuarum protege me”: no dizer do salmista (Vulg., Sal., 17:8), “Guarda-me como a pupila dos olhos, esconde-me à sombra de Tuas asas.” Agora e sempre, assim na Terra, como no Céu.

domingo, 23 de junho de 2013

De boas intenções...

"Os participantes de um movimento político normalmente ignoram seu fim, seu motivo e sua origem." – Nicolás Gómez Dávila

Ao passar os olhos sobre as redes sociais, tidas como origem de toda a agitação popular, percebo duas tendências exegéticas bastante claras frente aos últimos acontecimentos¹: estudiosos que concebem a política a longo prazo, em função de um bem comum objetivo e transcendente, encontram-se cautelosos e preocupados; valentes de bom coração, trôpegos curiosos e militantes que planejam para a próxima eleição estão eufóricos com tanto movimento, inédito à maioria.

Como apaixonado pelos clássicos, embora adorasse acompanhar o entusiasmo dos segundos, não me é dado segui-los. A bibliografia que tenho reunido ao longo de já longos e árduos anos não mo permite. Minha constituição intelectual, mesmo que não valha gran cousa, não mo permite. Eu não posso aceitar ser guiado como manada do nada ao lugar nenhum. Se a natureza não aceita o vazio, serei eu a proclamá-lo boa meta para a civilização?

Parafraseando Chesterton (mencionei a passagem lá pelos idos do Conclave, também, quando a tropa comemorava o "iminente fim da Igreja Católica" – a propósito, teria sido postergado?), a sabedoria da continuada investigação sobre a verdade, empreendida pelo homem em um contínuo de lá se vão quase três mil anos, permite-nos avaliar as coisas do modo com que comovem a humanidade, e não apenas pelas últimas notícias dos diários. E o que estou a ver – sinto muito, gostaria de poder ignorá-lo! – difere de todos os momentos que tenham, em qualquer contexto histórico, levado às grandes realizações do espírito. Nenhum deles deu-se assim. Ao contrário, essa que está aí foi a configuração perfeita para fortes reveses civilizacionais. Entre eles contam-se seus precedentes. E eu não posso me permitir calar ao ver filme repetido. Serei chato. Anunciarei o spoiler, sim. Porque a miséria e as balas, aqui, não são cenografia e festim.

Quando toda a agitação atingir sua encruzilhada, entre três vias apenas haverá por decidir: a do fogo de palha, que logo se consome e deixa pouco mais do que cinza e poeira; a de um crescendo autoritário, em que a mobilização de massa efetive-se como condição de possibilidade para a desinstitucionalização. A última, menos provável de todas, única capaz de deixar ao país um legado positivo, é o despontar de uma liderança iluminada. O diabo – com o perdão da palavra – é que, entre nós, esse vocábulo ("iluminada") reveste-se mesmo de conotações sobrenaturais, pois tal liderança ora não existe, e seu surgimento demandaria uma intervenção direta do Criador na História. É a esperança de um milagre.

Entrementes, vejamos as grandes manifestações cívicas, as verdadeiramente positivas. Estas são destinadas não a romper, mas a restaurar a ordem mais perfeita a uma dada politeia. Neste exato momento as encontramos quer na Europa, quer nos Estados Unidos, e diferem das nossas em forma e em substância, a um ponto tal que se faz visível: basta um bater de vistas. Dias atrás, eram quantos milhares, em Paris e por toda a França, contra a agenda do governo deles (idêntica à do nosso, apontemos, porque sacramentada desde as agências da ONU e coordenada pelas mesmas fundações transnacionais²)? E nos Estados Unidos? E qual o saldo? Efetivamente, os governantes de lá aquartelaram-se, temerosos. Hussein Obama, o Grande Irmão infanticida, está às turras pela descoberta de uma pequena parte da teia que teve de armar para proteger seus programas apátridas contra a ação cidadã. É que esses movimentos, lá, efetivamente são um empecilho aos projetos de poder dos governantes, porque trazem pautas e projetos completamente alheios à vontade dos últimos. São uma alternativa real.

Já o modelo de protesto que se trouxe para cá não foi o do civismo restaurador. Foi, em parte, o surgido nas periferias das capitais europeias, com a segunda geração de imigrantes de países muçulmanos, que, à diferença de seus pais – eternamente gratos pela acolhida redentora –, eis que sem conhecer os comos e porquês de onde se encontram, têm absolutamente toda a sua existência custeada pelos Estados, mas, ainda assim (porque assim!), guardam em seu âmago uma frustração voraz. Demandam do Estado, a qualquer custo, que obtenha mais meios de ação para desviar às suas vontades. Querem ser servidos com mais, e muito mais, como o monstro sem fundo da noite escura, cuja fome, se pudesse, devoraria o mundo inteiro sem quedar saciada. Fazendo-o, imaginam-se grandes rebeldes e matutos contestadores da ordem estabelecida.

É também o modelo dos ativistas de 1968, que, conforme já apontamos em comentário anterior, agindo exatamente assim, foram os responsáveis diretos pelo estado atual das coisas no ocidente. Pior: mesmo a pauta destes era infinitamente mais precisa, tanto em meios, quanto em fins, do que a que se está afirmando no momento presente.

Pior de tudo, traz os mesmos signos e agentes inconfundíveis de um terceiro elemento, surgido na esteira da experiência islamista europeia e levantina, mas aperfeiçoado para universalizar-se: os movimentos anárquicos e predatórios dos Occupies americanos, que incorporam a pura fúria disruptiva dos fanáticos de um lado, e a agenda de reengenharia comportamental muito cara aos pedagogos da academia, de outro, atualizando o discurso neomarxista para a era das redes. Lá, como cá, pautas, condutas, vocabulários de extrema-esquerda forçam sua dialética sobre governos em si mesmos esquerdistas. No mais das vezes, a juventude que deseja integrar a vanguarda dessas causas, de conteúdo necessariamente indefinido, sequer se dá conta de suas implicações. Não é preciso que se dê. Basta que a leve adiante. “O importante é caminhar...”, convence-os a elite de ideólogos que vê de sobre as brumas, do ponto supremo da nau.

As manifestações cívicas buscam a luz, e iluminam a constituição verdadeira dos povos. As  manifestações das hordas são noturnas em suas práticas, como em suas finalidades. As suas chamas projetam grandes sombras, e são as sombras que se espalham sobre o mundo.

Prudência - a rainha das virtudes cardeais.
Impactos políticos mediatos e imediatos
É óbvio que a persona de Dilma, ou as dos governadores pegos pelo furacão, foram fortemente comprometidas. Embora todos eles sigam dispondo de pleno tempo hábil a fazer limonada dos limões. Para o prefeito paulistano e socialista fabiano Fernando Haddad, por exemplo, não é qualquer sacrifício implodir o preço repassado aos usuários pelas passagens de ônibus e sair-se por reformador e herói, obliterando qualquer outra causa com o impacto de sua medida. Não é do seu bolso pessoal que sairão eventuais repasses às empresas do cartel. Mas nada do que se está esboçando exigir nas ruas – se é que há realmente alguma coesão para quando essas abstrações que se proferem tiverem de ser subsumidas ao reino dos fatos – implica qualquer dificuldade seja aos grupos, seja aos projetos de poder em curso no Brasil. Na verdade, acelera-os ambos em suas trajetórias.

Reduzamos nossa escala histórica. Vamos recobrar os dois movimentos de massa compositores do mito fundacional da Nova República: as Diretas Já e o impeachment de Collor de Mello. Seremos tolos ao ponto de querê-los espontâneos?

As Diretas Já acomodaram, com perfeição cirúrgica, os interesses do establishment político daqueles anos. Era sabido e consumado que o regime militar vivia, por impulso próprio, seus últimos dias e esforçava-se, ele mesmo, a transferir o poder para uma ordem mais aberta, sem rupturas institucionais. Cientes disso, aqueles que tinham expectativa de conquistar os meios políticos institucionais para si – até há pouco aglutinadas, mormente, sob o guarda-chuva do [P]MDB – quiseram assegurar que o receberiam íntegro, indiviso, tão absoluto quanto o detido pelos generais. Isso é, o instituto da Presidência da República haveria de manter-se sobre todas as coisas, sem permitir cogitar uma divisão orgânica de atribuições entre chefia de Estado (uma Casa Régia defensora das liberdades, como escolhera a Espanha pós-Franco, ou um presidente formal) e uma chefia de governo (um primeiro-ministro parlamentar), proposta cuja simples menção causava urticárias à massa de futuros candidatos ao Planalto. Recordemos que o mesmo já havia sucedido durante a breve experiência parlamentarista dos anos 1961 a 1963.  

Com as Diretas Já, a mentalidade popular brasileira foi moldada, precisamente, para confundir os conceitos de democracia e de voto direto para a chefia de Estado (um passar d’olhos pela Europa, novamente, bastaria a desmenti-los). O dano irreparável subsiste aos nossos dias.
  
E o impeachment de Collor? Convenhamos, nas fotos do período, mais chamativas que as caras-pintadas eram-no as bandeiras do PT. Casos de corrupção e ilegalidades muito mais prementes que os episódios de Fiats Elba  não fizeram cócegas a administrações anteriores. Sobretudo, Collor surgia de um partido insignificante e contrariava interesses do Congresso, onde não dispunha de base parlamentar.

Do movimento Fora Collor, ao cabo, o porta-voz foi um certo Lindberg Farias. Se hoje precisamos de luzes, aquela foi uma liderança que não demorou para assumir-se rubra – e agora é ele, Lindberg, aliado a um Collor redivivo, o investigado por corrupção endêmica.

O fogo de palha daqueles dias, se não deu em nada, marcou a história nacional para trocar o seis por meia dúzia. Que desperdício de energia criativa!

Como constatamos, era válida lá, como o é ora, a advertência do filósofo Olavo de Carvalho:

O que a massa sente e imagina não conta. O que conta é: quem comanda? Quem planejou? Quem subsidia? Qual a estratégia geral em que se insere o movimento? A massa, se surgir de dentro dela uma liderança antagônica aos organizadores iniciais, pode, é claro, mudar o curso das coisas, mas cadê essa liderança? Como ela não existe, os anticomunistas que participam dos protestos são a massa de idiotais úteis mais solícita que já existiu.

O pensador encerra com a mais bem-vinda mimese: "Tudo neste mundo é difícil e trabalhoso. Esperar de uma simples explosão emocional das massas uma transfiguração da realidade histórico-social é aquilo a que Eric Voegelin chamava ‘fé metastática’, uma doença gnóstica.”

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¹ Haveria uma terceira tendência exegética, a da patuleia petista, que se sente traída pela multidão e não sabe para onde dirigir sua raiva. Enquanto permanecerem atônitos, não são significativos.

² Leituras recomendadas sobre o tópico indicado:

- BERNARDIN, Pascal. Maquiavel pegadogo – ou o ministério da reforma psicológica. Campinas – SP: Cedet, 2013.
- BORK, Robert H. Coercing virtue: the worldwide rule of judges. Washington, D.C.: AEI Press, 2003.
- CARVALHO, Olavo de. A nova era e a revolução cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci. 3. ed. revista e aumentada. Texto integral disponível online.
- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contrarrevolução: edição comemorativa do cinquentenário da publicação. São Paulo: IPCO, 2009.
- GOLITSYN, Anatoliy. New lies for old. United States: Penguin Putnam & Children, 1990.
- HUXLEY, Aldous. Brave new world revisited. Texto integral disponível online.
- SANAHUJA, Juan Claudio, Mons. Poder global y religión universal. Buenos Aires: Vórtice, 2010.
- STORY, Christopher. The European Union collective: enemy of its Member States. Edward Harle Ltd., 2002.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Afinal, o que querem os combatentes? Ou: muito barulho por nada. Ou ainda: cuidado com aquilo que desejas...

“El tonto grita que negamos el problema cuando mostramos la falsedad de su solución favorita.” – Nicolás Gómez Dávila

(Thomas Cole, "The Course of Empire: Destruction", óleo sobre tela, 1836)
Os manifestantes de nossas praças de guerra estão mesmo de parabéns. A democracia pós-moderna nunca foi tão... moderna por estas bandas. É como 1789 sem os mercenários suíços e os filósofos iluministas (sem filósofo nenhum, na verdade), ou 1992 sem Collor. Bom, não exatamente sem Collor – já ninguém repara, mas ele segue lá.

Com ou sem violência, com ou sem partido, mais ou menos "enragées", o máximo que as massas [e os homens massa, diria Ortega y Gasset] articulam é a exigência de um alguém que faça algo, em algum lugar, contra alguma coisa que não se sabe bem o quê (ah!, é um "malaise" civilizacional, "Das Unbehagen in der Kultur"...), sendo cada vez mais provável que obtenham o que pedem e muito mais: que os detentores do poder aproveitem a deixa para reformarem as instituições um pouquinho mais próximas ao seu [deles] gosto – "to fundamentally transform the world to make it closer to the heart's desire", como propunha o velho adágio da Sociedade [Socialista] Fabiana. No caso, o gosto da opressão e o desejo de poder sem limites – o velho e bom espírito luciferino de revolta contra a estrutura mesma do real, em que cabeças de noz pretendem forçar o universo pelo buraco de agulha de suas percepções contingentes.

A baixa militância petista, cumpridora diligente dos comandos de sua cúpula, já é vista a capitalizar sobre a exigência difusa de "alguma mudança, alguma providência, alguma atitude" a qualquer custo. Esses sim estão organizados, e há muito, para alavancar um projeto de poder bem definido, contra o qual o único empecilho tem sido, ao largo da Nova República, a morosidade das instituições democráticas. Vós, briosos combatentes, tais como uma locomotiva desgovernada enfim estais vencendo a lei da inércia. Por não terdes maquinista, leme ou prumo, a isso se traduz descarrilar: joga-se fora o bebê com a água do banho, tudo a pretexto de "fazer alguma coisa" seja lá o que for. Dizem que "o importante é caminhar" e que "a utopia mostra a direção"... Quem caminha olhando para o sol pode deixar de avistar o precipício iminente. Tanto marcham, tanto lutam e praguejam, e para quê? Para o nada! Mas o nada não subsiste, quer na sociedade, quer na natureza. Todo vácuo de poder e objetivo vem preenchido cedo ou tarde.

Ora, o que querem eles? Tudo teria principiado a pretexto de um aumento tarifário sobre transporte coletivo e, num crescendo, veio a englobar qualquer reivindicação da metafísica influente, sobretudo as de almoço grátis. Mas, supondo que haja alguma racionalidade na grande marcha da vaca para o brejo, os jargões mais repetidos envolvem uma revolta contra a política institucional em geral e, dela, “A Corrupção”, ente [aparentemente] senciente.

Quem, contudo, em tese se opõe a acabar com A Corrupção? Quem não o quer, assim, em abstrato? Os petistas também o querem; querem-no o Sarney, o Collor, o Maluf, o Renan, o Lindberg (e como o quer, o Lindberg!) e tutti quanti, ou assim o dizem. Até Dirceu certamente se afirma contra A Corrupção. O PT criou-se para combatê-la, ela que seria um "vício do sistema burguês". Ô, raios! E quem seria a favor dela, então? Quem é o vosso inimigo? Caim, que matou Abel? A serpente que convenceu Eva? Kali, a deusa hindu da destruição?

Ocorre que Lula, Dirceu e Dilma adorariam "acabar com a corrupção" submetendo toda a vida nacional aos interesses de seu partido, o Moderno Príncipe, sem possibilidade de resistência a suas personalíssimas vontades. Se todos fossem compelidos à obediência pela força real ou iminente (como em Orwell) ou infantilizados pela dependência sistêmica e pela dissuasão psicológica (como em Huxley), não seria necessário "convencer" as bases pelo bolso, não é?.E que tal a ditadura? Para tanto, valer-se-iam de concentração de poder, cerceamento de liberdades tradicionais, supressão de instâncias deliberativas e, por fim e em suma, ideologização sub-reptícia de todos os aspectos da existência humana. Tudo de que precisam para justificá-lo resume-se àquilo que ora estão recebendo das ruas: mobilização. Qualquer mobilização. Tanto melhor se amorfa, vaga como um contrato de cláusulas gerais de adesão.

Sarney, Renan e Collor entendem "acabar com a corrupção" como torná-la desnecessária, transmutando os privilégios do coronelato em um instituto consuetudinário autoaplicável, e Márcio Thomaz Bastos, o defensor a soldo dos mensaleiros – enquanto ministro, nada menos que o consultor do governo para a elisão de crimes institucionais – publicou recente artigo em defesa dos protestos. Já o baixo clero fisiologista dos parlamentos pretende "acabar com a corrupção" ao pura e simplesmente torná-la legal e inescapável: tramitam velozes os projetos legislativos envolvendo eleição por listas partidárias fechadas e financiamento estatal das campanhas políticas.

Assim, ao passo que uns demandam ao trabalhador pobre, pagador de impostos, que sustente os "road trips" urbanos da estudantada abastada e maconheira, a liderança filopetista já se aproveita para alavancar, sob o pretexto de "fazer alguma coisa" e atender aos "anseios populares", a reforma política iníqua e gritantemente autoritária com que sonha há tantos anos, incluindo o "passe livre" da boa vida para a máquina partidária. Financiamento público de campanha significa transformar o oficialato dos partidos em verdadeiros burocratas públicos. Sem concurso e, sobretudo, sem qualquer obrigação para com o bem comum, pois a serviço exclusivo da tomada do poder.

Enquanto os manifestantes – refiro-me, agora, à suposta maioria de bem-intencionados, não aos terroristas originais que ainda tocam a boiada – não tiverem um consenso próprio de razões tangíveis, ou seja, não souberem formular sua pauta e tudo se resumir a "um sentimento difuso", um certo "mal-estar", não faltará quem lhes administre o remédio que bem entender.

Anseiam tanto por mudanças que jamais se detiveram a estudá-las; correm o sério risco de serem convertidos em seu efetivo instrumento à revelia. Transmutados não só em objeto das próprias pulsões, como todo o indivíduo que ingressa em uma multidão, mas sobretudo em brinquedo daqueles que, da anarquia, tiram proveito. Pobre, soberba juventude, uma vez mais submetida a técnicas de engenharia social, política e comportamental que os impede de relacionar conceitos abstratos e informações sensíveis. Acontece diante de seus próprios olhos: impondo sobre a cidade verdadeiro cárcere privado, deitam falar em "reforma agrária e reforma urbana"; conduzidos por uma vanguarda do atraso que vandaliza os parcos meios de subsistência de uma gente já pobre e sofrida, imaginam que tudo estará bem e que o saldo será o de um "protesto pacífico" se, assistindo de camarote ao terror, limitarem-se a  entoar para seus líderes que era tudo para ser "sem violência!". Como se não soubessem ser a presença deles próprios a condição de possibilidade para o extravasar de uma tal hubris. 

Aceitando ações fundamentalmente cerceadoras como libertárias e acumpliciando-se de fenômenos intrinsecamente violentos e injustos em nome da harmonia e da justiça (ao revés,  Santo Tomás ensina-nos que o verdadeiramente bom e verdadeiramente justo deve sê-los tanto em seus meios, quanto em seus fins), o sujeito, qual espécime de laboratório, acaba introduzido à distopia orwellana onde guerra é paz; liberdade é escravidão; ignorância é força; assim como caos é ordem; assassinato é nascimento; saque e depredação são solidariedade e construção de um país melhor. Tanto duplipensar, causa e conseqüência da mais endêmica dissonância cognitiva, introjetado tão violentamente por tamanha estimulação contraditória, traz como propósito único e deliberado incapacitar a mente a apreender, de forma imparcial e autônoma, qualquer resquício objetivo da realidade. Sem o princípio de não-contradição, o raciocínio humano é simplesmente inviável.          

Amigos, quereis que "alguém faça alguma coisa" contra "tudo o que está aí"? Eles farão, lépidos e fagueiros. E "tudo aquilo que aí está", pior do que é, pode sim ficar. Como aquela geração maravilhosa dos protestos globais de maio de 1968, do "é proibido proibir", que nos legou o Estado mais onipresente, os governos mais corrompidos, a sociedade mais estupidificada e o maior vazio de lideranças na história da humanidade.

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Leitura recomendada:

- Discurso do presidente francês Nicolas Sarkozy, então candidato ao dito cargo, frente ao lotado estádio de Bercy, Paris, em tradução de Leonardo Faccioni.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Protestos e protestáveis: de como falsos movimentos sociais corrompem causas legítimas


“Suponhamos que surja em uma rua grande comoção a respeito de alguma coisa, digamos, um poste de iluminação a gás, que muitas pessoas influentes desejam derrubar. Um monge de batina cinza, que é o espírito da Idade Média, começa a fazer algumas considerações sobre o assunto, dizendo à maneira árida da Escolástica: «Consideremos primeiro, meus irmãos, o valor da luz. Se a luz for em si mesma boa…». Nesta altura, o monge é, compreensivelmente, derrubado. Todo mundo corre para o poste e o põe abaixo em dez minutos, cumprimentando-se mutuamente pela praticidade nada medieval. Mas, com o passar do tempo, as coisas não funcionam tão facilmente. Alguns derrubaram o poste porque queriam a luz elétrica; outros, porque queriam o ferro velho; alguns mais, porque queriam a escuridão, pois seus objetivos eram maus. Alguns se interessavam pouco pelo poste; outros, muito. Alguns agiram porque queriam destruir os equipamentos municipais. Outros porque queriam destruir alguma coisa. Então, aos poucos e inevitavelmente, hoje, amanhã, ou depois de amanhã, voltam a perceber que o monge, afinal, estava certo, e que tudo depende de qual é a filosofia da luz. Mas o que poderíamos ter discutido sob a lâmpada a gás, agora devemos discutir no escuro.” ("Hereges", G.K. Chesterton)

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As últimas noites registraram cenas de guerra civil em diversas metrópoles do país. A causa alegada: a elevação das tarifas para o transporte público urbano. Pois sim! É dito que o brasileiro é um povo que leva mais em conta sua carteira do que a vida de seu irmão, e pode haver algum fundo de verdade nisso. Enquanto cinquenta mil cidadãos têm suas vidas ceifadas a cada ano diante da simbiose entre governo e narcotráfico, ninguém move uma palha. Ou enquanto bebês são mutilados pelas próprias mães, sob a chancela do Estado e incentivo da grande imprensa. Tampouco quando a corrupção faz-se endêmica, políticos escolhem vencedores e perdedores com seu regime de fomento industrial fascistóide e inflacionam a moeda, transferindo renda dos mais necessitados aos mais ricos; ou pelas distorções representativas brutais que se acentuam nos parlamentos; pela falência do pacto federativo e pelas revisões judiciárias da lei positiva que, quotidianamente, tripudiam sobre o direito natural. Nem se manifestam ao verificar como pedófilos transnacionais ditam a política educacional; a carga tributária avança a patamares confiscatórios; progride a perseguição antirreligiosa; a pátria, antes miscigenada, vem dividida em raças ideológicas; e seu território, em uma colcha de retalhos de "nações indígenas", onde sequer as Forças Armadas podem ingressar. Não obstante, aumente-se em um vintém o valor das passagens de ônibus e – fiat lux! Vira-se a mesa ao ponto de agredir policiais, destruir equipamentos públicos e bens históricos inestimáveis, arriscar o patrimônio próprio e o alheio e ameaçar a integridade de transeuntes inocentes, como em querela de vida ou morte.

Todavia, pode-se mesmo afirmar que massas de manobra sectárias representem o povo? De forma alguma. O povo brasileiro não é dado a expedientes de turba, nem covarde ao extremo de procurar o anonimato para atos de depravação e catarse. Os criminosos in casu são soldados. Estão a cumprir ordens. Tal espécie de balbúrdia em escala não se dissemina espontaneamente. Requer organização e planejamento intensivos. Sendo assim, a quem pertenceria "a mão que balança o berço"? Quem detém tamanha capacidade de mobilização para o ilícito com fins políticos no Brasil? A indagação não quer calar. Alguém ousa responder-lhe?

O fato é que, se o estopim de todos os atos a dominar os jornais efetivamente fosse o preço do referido serviço público, nenhum dos movimentos alegadamente sociais que se apresentam estaria apto a resolver o problema. Limitam-se todos a demandar almoços grátis, se é que encontram tempo hábil para algo demandar entre as copiosas tarefas de arrebentar um monumento aqui e apedrejar uns funcionários públicos (muito mais pobres do que eles) acolá.

Não bastasse a cartelização oficiosa (perdoem-me a tautologia, já que qualquer cartel ou monopólio só se faz possível mediante garantia estatal) do atendimento à exigência por transporte coletivo, pela qual empresas são simplesmente proibidas de oferecer serviços melhores a custos menores que os das preferidas pelo governo de turno, há ainda que considerar os efeitos perversos da demanda infinita. É o resultado direto da legislação que compele as concessionárias, mediante tungada estatal, a oferecer gratuidades e subsídios a parcelas significativas de usuários (e.g., estudantes universitários de classe média alta) às expensas de todos os demais (e.g., trabalhadores de classe média baixa sem padrinhos políticos). Tais realidades, nenhum dos chamados “Movimentos Passe Livre” dispõe-se a enfrentar. Na verdade, pretendem ampliar a dose do veneno. E de veneno eles entendem. Tanto quanto o fazem de barricadas e coquetéis molotov.

A tudo isso poderia opor-se o oráculo do senso comum (um desses que se saem pré-moldados das universidades brasileiras): "o transporte urbano é essencial à economia! Sendo um serviço público de primeira necessidade, não deveria ser relegado à iniciativa privada!"

Responda-se com toda a veemência: tem razão! É injustificável que um serviço tão fundamental quanto o transporte de Sr. Fulano do ponto A, onde vive porque lhe é conveniente, ao ponto B, ao qual deseja chegar por seu particularíssimo interesse, possa ser oferecido livremente pelo Sr. Ciclano, motorista apto, proprietário de veículo regular, interessado em conduzir Sr. Fulano de forma condizente ao melhor gozo das faculdades cognitivas de ambos, sem prejuízos a terceiros (beneficiando, aliás, demais usuários pelo caminho). É serviço demasiado complexo para que seja relegado a pessoas livres, atomizadas! Algum burocrata tem de planejar o trajeto, ora pois. Imaginem só se deixássemos, digamos, a produção e a distribuição de alimentos ao encargo da iniciativa privada. Estaríamos todos fadados a morrer de inanição, inteiramente dependentes da cobiça caótica de quitandeiros, supermercadistas, horticultores, agricultores e pecuaristas privados, sem esse aprazível vale-racionamento mensal de... Ups!, estamos falando do Brasil, não é? Pensava que fosse de Cuba. Perdão.
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Leituras recomendadas:

- Brincando de Revolução, por Rodrigo Constantino
- O casamento do estado-babá com o estado prevaricador, por Reinaldo Azevedo
- Protestos em São Paulo e as janelas quebradas, por Flávio Morgenstern

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Farewell, Milady

Margaret Thatcher foi uma dama. Tudo o mais que sobre si se diga é supérfluo, pois foi dama verdadeira. Quiçá a última, no último dos séculos de nosso ciclo civilizacional. Ser uma dama significa incorporar ao íntimo de seu ser valores inegociáveis e princípios caros ao Absoluto. Não transigir no intransigível. Não tolerar o intolerável. Não conceder, nem mesmo ao meio mais vil, que macule a pureza de um coração sincero.

Em tempos de maquiavelismo inconteste, conchavos de gabinete e hipocrisia institucionalizada, Lady Thatcher recordou à Europa e ao mundo a elegância da retidão, a beleza da honestidade e o brilho da liberdade, caracteres indissociáveis de sua biografia e transparentes em suas palavras e gestos.

"Dama de Ferro"? Pois toda dama deveria sê-lo! Apegar-se ferreamente aos nobres valores, sem meios termos! Não se transige sobre o essencial, e toda verdadeira dama é monumento à essência feminina.

Maggie Thatcher, ao resplandecer na ágora dos povos, significou ainda mais. Foi superlativa. Erigiu um monumento à essência do Mundo Livre, como apenas uma verdadeira dama - a última de sua estirpe - poderia auferir.

Aos cavalheiros, atentai! Thatcher partiu, mas seu exemplo de coragem segue a exortar-nos. Contra tudo e contra todos, dois e dois serão sempre quatro; terá sempre o homem direito ao fruto de seu trabalho, ao livre-pensar e à conseqüente busca de sua realização. Defendei essa certeza! Fazei-o com vontade férrea!

Na arena pública ou na vida particular, os sindicatos do erro e os lobbies da acomodação são sempre eficientíssimos em simular maiorias e exercer insuportáveis pressões. Não deixai abalar vossas convicções por maiorias de ocasião, nem por bravatas influentes! Realidades objetivas não dependem do número de seus adeptos. Enquanto houver quem as sustente, seja um único indivíduo frente à turba ou à multidão, o  um valerá pelo infinito. Entre virtudes e falhas tão humanas, sustentai a altivez de ideal. Não temais entrar para a História!

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A baronesa Margaret Hilda Thatcher, premiê britânica de mais longevo governo no século XX (1979 - 1990) e líder do Partido Conservador, faleceu na manhã de hoje, em Londres, aos 87 anos. Seus anos à frente da política britânica não foram perfeitos, mas constituíram farol das possibilidades humanas em direção à liberdade durante época sujeita às rubras sombras do totalitarismo. Na terra natal do socialismo fabiano - a política da dissimulação oficial - Thatcher ascendeu das origens humildes à liderança global sem jamais deixar de reconhecer e de proclamar sua certeza no potencial da sociedade de confiança.

sexta-feira, 1 de março de 2013

In saecula saeculorum


Não houvesse a fé, que inconcebível seria a instituição Igreja! Quão extraordinária é a continuidade do Corpo do Doce Cristo em Terra, que surpreende os juristas seculares quando, obedecendo ao Legislador do Eterno, busca precedentes na escala dos séculos e milênios!

Assim foi quando o exímio teólogo Joseph Aloisius Ratzinger, seguindo precedente deixado por São Celestino V no Ano de Nosso Senhor de 1294, decidiu, em diálogo de sua alma com Deus, abdicar a função de Sumo Pontífice da Igreja Católica e pastor de um bilhão de almas por todo o mundo, dando seqüência à sucessão apostólica e passando a servir à Igreja em retiro e oração.

Em verdade, dentro de poucos dias reunir-se-ão em conclave brilhantes e santos homens  pecadores, sim, porquanto homens são, mas santificados pela investidura nos séculos de uma Tradição cuja continuidade, diante de tais e tantos homens, apenas o Espírito Santo justifica  e, tudo leva a crer, escolherão a suceder nosso amado Bento XVI aquele que Deus julgar necessário ao Seu tempo. É dizer, um Papa não serve ao tempo dos homens, senão para dar-nos o vislumbre das verdades inegociáveis do tempo de Deus, em uma escala que tão somente a Igreja una e santa pode aferir.

Parafraseando G.K. Chesterton, o católico é um homem dotado de dois mil anos de vivência:
"Isto significa, se o presenciarmos ainda mais, que uma pessoa, ao se converter, cresce e se eleva ao pleno humanismo. Julga as coisas do modo como elas comovem a humanidade, e a todos os países e em todos os tempos; e não somente segundo as últimas notícias dos diários. Se um homem moderno diz que sua religião é o espiritualismo ou o socialismo, esse homem vive integralmente no mundo mais moderno possível, quer dizer, no mundo dos partidos." (CHESTERTON, G.K. Por que me converti ao catolicismo.)
Bem entendido, seja quem for o escolhido sob o precedente de "Tu es Petrus", instituído por ninguém menos que o Verbo primordial encarnado, será ele um conservador de verdades tão antigas quanto o mundo (e, pois, portador de um amor tão profundo quanto as fundações da Terra) diante de um tempo titubeante e ávido por livrar-se de suas raízes. É que as raízes são tomadas por amarras, sem que ninguém aponte ao moderno, disto, que irá tombar. 

Dadas as condições, mais do que nunca é verdadeira a assertiva de Chesterton: "se o Papa não existisse, seria preciso inventá-lo."

Os tempos de sede vacante, o interregno episcopal da Sé de Roma, têm atiçado as fantasias de todos os poderes sociais que sofrem a concorrência da Igreja. É compreensível, pois a autoridade moral inquebrantável do catolicismo vem sendo a pedra no sapato de césares e brancaleones desde os tempos bíblicos. Toda uma escola filosófica  o marxismo frankfurtiano   desenvolveu-se com o fim declarado de varrer a influência cristã da cultura ocidental para, só então, promover a revolução política. São os mais interessados em "reformar o catolicismo" desde dentro. Para o seu próprio bem...

Em termos sociológicos, é possível vincular a legitimidade da Igreja inteiramente à tradição (do latim traditio, entrega – a herança que se transmite entre as gerações de fiéis). Embora a proporção nominal de católicos na população dos países desenvolvidos tenha sucumbido, o prestígio do magistério bimilenar do catolicismo influencia, graças à sua coerência, mesmo aqueles que não se querem vinculados à religião institucional. Em época tão interessada pela popularidade instantânea, é curioso observar como, sempre que a Igreja insinuou aberturas hermenêuticas sobre seus dogmas e princípios, o número e a assiduidade de seus fiéis foram reduzidos. “A Igreja, ao escancarar suas portas, quis facilitar a entrada aos de fora, sem pensar que mais facilitava a saída aos de dentro”, atesta o espirituoso Nicolás Gómez Dávila. Ao considerar a aprovação das massas, é bom sopesar que o gênero próximo à Igreja é o Deus vivo, e o Deus vivo, para persistir na Verdade, foi crucificado pelos homens.

Sim, a Verdade... Quid est veritas?  interrogou Pilatos e lavou suas mãos. Diz-se que é relativa, como se diz de tudo o mais, e tudo parece efêmero em nosso tempo. O fluxo de informações instantâneas mantém a mente sempre ocupada, incapacitada para a reflexão e organização do conhecimento. As leis do Estado são inescrutáveis, quer por seu volume, quer por sua inconstância. Heróis surgem e esvaecem em questão de horas, e pelas causas mais banais. Mesmo a vida é tolhida a qualquer momento, em qualquer esquina, por bem menos que trinta moedas de prata. Será difícil perceber, pois, que o diferencial da Igreja  sua diferença específica para tudo o mais que nos é ofertado  está justamente em sua permanência?

Quem atravessa as portas de uma catedral católica, faça-o em Manhattan ou na Zâmbia, cumpre a travessia para um mundo além do espaço e do tempo. Participa da Eternidade. Nenhum outro recurso à disposição do homem permite encarar a humanidade assim, em seus olhos; conhecê-la a um só tempo em seu todo e em seu íntimo; perscrutar, mesmo que de relance, a completude do universo e das eras na presença total do Criador. Dos valores à arquitetura, tudo conduz à idade das estrelas.

Se a Igreja abrisse mão de sua fidelidade à democracia dos séculos para agradar a esta década, estaria arruinada. Diluir-se-ia no grande caldo das vaidades que transitam e somem antes da segunda alvorada. Não, nenhum Papa teria autoridade para tanto. A Igreja de nosso tempo, daqueles que hoje transitam no mundo, é fiel depositária de tesouros da alma humana sobre os quais impende o dever de legá-los às gerações futuras. Quer o mundo goste, quer não. Os césares nunca gostaram. Não obstante, a Igreja está aí, imperando sobre a Cidade Eterna de Roma. Os césares, não. 

Nesta hora de incertezas, recordemos a exortação das Escrituras tão cara a nossos Pontífices: nolite timere! Não tenhais medo! Confiemos no Espírito  o Santo, e o dos séculos. E que viva a Igreja Católica! Vivamo-la, em comunhão com Pedro, gozando a divina promessa da imortalidade de tudo o que foi, é e será sempre bom, belo e justo. A fé que não se curvou a imperadores, bárbaros, reis e saqueadores não será ludibriada pelo veneno das mídias ou pela incompreensão das vítimas do sistema [des]educacional da alta modernidade. Quando a Alta Modernidade findar, a Igreja seguirá seu caminho rumo à Cidade de Deus. Em oitocentos anos, o legado intelectual e espiritual de Bento XVI será tão válido quanto o é, hoje, o precedente de Celestino V, mesmo que ninguém, então, recorde os governantes das potências deste tempo e os âncoras de blogs e jornais. Eles constroem sobre areia. Tu és pedra...

Está escrito: as portas do inferno não prevalecerão!